Publicado na Revista Cult Nº67, Ano 2003
Quando se olha para um trabalho que expressa uma manifestação artística, o que passa pelas nossas cabeças? Que emoção nos toma? Às vezes não conseguimos nos valer das palavras para expressar o que sentimos, de tão incapazes – apesar de serem sábias – que são as palavras diante um trabalho artístico. Rudolf Arnheim em seu livro Arte e percepção visual: Uma Psicologia da Visão Criadora diz que há um fundo de verdade, quando se afirmam que é impossível comunicar as coisas visuais através da linguagem verbal. Eu também acredito nisso. O homem é mais do que verbo, do que linguagem articulada. Há coisas que o homem sente e que o mundo das palavras é limitado para traduzir tais sentimentos. Há coisas que o cérebro percebe, os olhos veem, o coração sente, mas a boca não consegue falar.
Analisando este trabalho de Luciene Aguiar me peguei sem palavras para descrevê-lo. Até porque se isso fizesse, estaria limitando, rotulando, mensurando seu poder de expressão. Estaria limitando o trabalho à minha percepção, às fronteiras da tela, da moldura. Um desenho, uma pintura, não fica restrito ao seu suporte. Ele repousa ali, mas vai além, ele é absorvido pelo espectador e viaja com esse espectador e com ele permanece para todo o sempre ou não. Essa permanência ou não permanência vai depender do espectador, claro. O trabalho de Luciene permanece comigo. Ele me acompanhará para todo o sempre. Passeei pelo seu blog e apreciei todos os seus trabalhos, mas este me chamou particularmente a atenção. “Partida”. Uma Partida que fica conosco, que não nos abandona, mesmo deixando nossas cadeiras vazias, nossos corações remendados, nossas almas como colchas de retalho. Quem se encontrar com Partida, não mais partirá sem ela. É uma Partida que ficará sempre presente. “Partida” estava dentro de Luciene e ela, de forma singular, o expôs, pois segundo Max Ernst o papel do pintor é cercar e projetar o que dentro dele se vê.
Parabéns Luciene Aguiar. Você é muitíssimo criativa e talentosa. Pena que o Brasil é ainda muito verde para saber valorizar quem realmente tem talento.
Será que somos parentes? Beijos.
Adda Castelo Branco de Aguiar
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